quarta-feira, 15 de junho de 2011

Gaston Bachelard Revisitado

«Nos seus mil alvéolos, o espaço retém o tempo comprimido. É essa a função do espaço. /Aqui (no berço da casa) o espaço é tudo, pois o tempo já não anima a memória. A memória - coisa estranha! - não regista a duração concreta, a duração no sentido bergsoniano. Não podemos reviver as durações abolidas. Só podemos pensá-las, pensá-las na linha de um tempo abstracto privado de qualquer espessura. É pelo espaço, é no espaço que encontramos os belos fósseis de duração concretizados por longas permanências. O inconsciente permanece nos locais. As lembranças são sólidas, tanto mais sólidas quanto mais bem espacializadas.» (Gaston Bachelard)

Devo confessar que, quando comecei a ler as obras epistemológicas de Gaston Bachelard, uma figura filosófica digna da admiração de Althusser, desprezava todas as suas obras dedicadas à fenomenologia da imaginação. Porém, depois de ter assimilado a filosofia de Ernst Bloch, comecei a dar-lhes o valor que merecem: a distinção entre sonho diurno e sonho nocturno realizada por Ernst Bloch, mediante uma crítica subtil mas contundente da psicanálise de Freud, encontra eco na filosofia de Bachelard, nomeadamente na distinção equivalente entre devaneio e sonho nocturno. Mas as semelhanças de superfície não podem esconder a diferença: a filosofia da esperança de Ernst Bloch é uma filosofia-praxis-mundo revolucionária, como já mostrei noutros textos. Hoje, depois de ter esboçado a concepção apocalíptica da História, sou forçado a rever os textos que dediquei aos meus mestres: as imagens do espaço feliz - mencionadas pelos mestres - opõem-se às imagens do espaço de hostilidade - aquelas que são o alvo preferencial da minha atenção e que só podem ser estudadas à luz de materiais ardentes e de imagens apocalípticas. A dialéctica é devolvida ao seu próprio elemento-terreno-ígneo: o campo da luta dos contrários, na tentativa desesperada de adiar - momento a momento - o triunfo final da força destrutiva que a imobilizará para sempre. A topofilia e a topofobia não são conceitos estranhos à concepção apocalíptica da História, como veremos noutros textos. Aqui limito-me a reconduzir para estes textos dedicados à filosofia de Bachelard:

6. Já agora reconduzo para esta série de 4 textos - O Nascimento da Ciência Moderna, 1, 2, 3 e 4, bem como para este texto: Thomas S. Kuhn: A Estrutura das Revoluções Científicas.

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, acabei de devorar uma torta de chocolate inteira... :(