domingo, 6 de dezembro de 2009

L.S. Vygotsky: Psicologia e Pedagogia

«Estudar alguma coisa historicamente significa estudá-la no processo de mudança: esse é o requisito básico do método dialéctico. Numa pesquisa, abranger o processo de desenvolvimento de uma determinada coisa, em todas as suas fases e mudanças - do nascimento até à morte - significa fundamentalmente descobrir a sua natureza, a sua essência, uma vez que "é somente em movimento que um corpo mostra o que é". Assim, o estudo histórico do comportamento não é um aspecto auxiliar do estudo teórico, mas sim a sua verdadeira base. Como afirmou P.P. Blonsky, "o comportamento só pode ser entendido como a história do comportamento".» (L.S. Vygotsky)
«A maior mudança na capacidade das crianças para usar a linguagem como um instrumento para a solução de problemas acontece um pouco mais tarde no seu desenvolvimento, no momento em que a fala socializada - que foi previamente utilizada para se dirigir a um adulto - é internalizada. Em vez de apelar para o adulto, as crianças passam a apelar a si mesmas; a linguagem passa assim a adquirir uma função intrapessoal além do seu uso interpessoal. No momento em que as crianças desenvolvem um método de comportamento para guiarem a si mesmas, o qual tinha sido usado previamente em relação a outra pessoa, e quando organizam a sua própria actividade de acordo com uma forma social de comportamento, conseguem com sucesso impor a si mesmas uma atitude social. A história do processo de internalização da fala social é também a história da socialização do intelecto prático das crianças. /A linguagem surge inicialmente como um meio de comunicação entre a criança e as pessoas no seu ambiente. Somente depois, quando da conversão em fala interior, ela vem a organizar o pensamento da criança, ou seja, torna-se uma função mental interna.» (L.S. Vygotsky)
No período pós-revolucionário russo, o marxismo produziu uma extraordinária psicologia do desenvolvimento, cujo alcance teórico ainda não foi suficientemente analisado e integrado. L.S. Vygotsky destaca-se dos seus colegas do Instituto de Psicologia de Moscovo pelo facto de ter estabelecido as bases firmes de uma teoria unificada dos processos psicológicos humanos. A sua teoria sócio-cultural dos processos psicológicos superiores revela os mecanismos pelos quais a cultura se torna parte integrante da natureza de cada ser humano, dando especial ênfase às origens sociais da linguagem e do pensamento, sem no entanto desprezar a actividade cerebral, de resto estudada magnificamente por A.R. Luria. A teoria do desenvolvimento é compreendida à luz da teoria marxista da história da sociedade humana. Com esta afirmação, afasto-me nalguns aspectos substanciais da interpretação que a psicologia cognitiva americana (H. Gardner, J. Bruner) fez da obra de Vygotsky, submetendo-a à herança de Darwin: «O uso e a "invenção" de ferramentas pelos macacos antropóides é o fim da etapa orgânica de desenvolvimento comportamental na sequência evolutiva e prepara o caminho para uma transição de todo o desenvolvimento para um novo caminho, criando assim o principal pré-requisito psicológico do desenvolvimento histórico do comportamento. O trabalho e, ligado a ele, o desenvolvimento da fala humana e outros signos psicológicos utilizados pelo homem primitivo para obter o controle sobre o comportamento significam o começo do comportamento cultural ou histórico no sentido próprio da palavra. Finalmente, no desenvolvimento da criança, vemos claramente uma segunda linha de desenvolvimento, que acompanha os processos de crescimento e maturação orgânicos, ou seja, vemos o desenvolvimento cultural do comportamento baseado na aquisição de habilidades e em modos de comportamento e pensamento culturais» (Vygotsky). Evolução, história e ontogénese constituem as três linhas principais no desenvolvimento do comportamento. O estudo da psicologia do homem cultural adulto exige o estudo da evolução biológica, da evolução histórico-cultural e do desenvolvimento individual, mas estes três caminhos fazem parte de um mesmo processo de longa evolução ou de um mesmo trajecto evolutivo, no decurso do qual cada um deles constitui um salto qualitativo (Hegel): a passagem do animal ao homem, do homem primitivo ao homem moderno, e da criança ao respectivo homem adulto. A emergência da era cultural do homem impõe uma outra orientação ao desenvolvimento individual: a ontogénese deixa de ser vista como recapitulação da filogénese, ou seja, a criança não repete no processo do seu desenvolvimento ontogenético os traços essenciais da evolução da espécie, cobrindo, nos poucos anos da sua vida individual, o caminho percorrido pela humanidade em dezenas de milhares de anos. O desenvolvimento do homem é fundamentalmente desenvolvimento social e cultural condicionado pelo ambiente: «É impossível compreender a história da memória humana sem a história da escrita, do mesmo modo que não se pode compreender a história do pensamento sem a história da fala». A natureza e a origem sociais dos signos culturais mostram claramente que «o desenvolvimento psicológico está solidamente inserido no contexto de todo o desenvolvimento social». (Vygotsky)
Em termos de elaboração conceptual, Vygotsky trabalha em duas frentes de integração psicológica - a social e a cerebral -, de modo a explicar o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, sem ficar prisioneiro da psicologia social e cultural ou da neuropsicologia. O mental situa-se, estrutura-se e organiza-se entre o cerebral e o social. A redução do mental - e a sua explicação - a um destes pólos conduz a abordagens distintas da vida mental: a psicologia social tende a explicar o mental em termos de processos sociais, enquanto a neuropsicologia procura identificá-lo com o cérebro em acção (Luria). Na sua obra Fundamentos da Defectologia, onde estuda as crianças deficientes, Vygotsky traça claramente uma linha de demarcação entre o natural, fisiológico ou biológico, por um lado, e o histórico-cultural, por outro. Vygotsky reconhece a autonomia relativa de cada uma destas duas linhas de desenvolvimento - a biológica e a social, mas recusa reduzir o desenvolvimento da criança a um mero crescimento e maturação orgânicos, porque, como veremos, a partir do momento evolutivo em que surge o homem cultural - primitivo ou moderno, o histórico-cultural é interiorizado mediante o uso de instrumentos psicológicos, em especial da linguagem. O comportamento histórico-cultural sobrepõe-se ao comportamento natural e transforma-o radicalmente, sem no entanto o substituir. O histórico-cultural impregna-se na estrutura da personalidade como um todo. Arnold Gehlen define mais tarde a personalidade como uma instituição social e Vygotsky acentua na sua Psicologia da Arte o sentido social da arte: «A arte é o social em nós, e, embora o seu efeito se processe num indivíduo isolado, isso não significa, de modo algum, que as suas raízes e a sua essência sejam individuais. É muito ingénuo interpretar o social apenas como colectivo, como existência de uma multiplicidade de pessoas. O social existe até onde há apenas um homem e as suas emoções pessoais». A Escola de Sociologia de Durkheim, em especial os estudos sobre o pensamento primitivo de Lucien Lévy-Bruhl, exerceu uma influência poderosa sobre a teoria do desenvolvimento de Vygotsky: o estudo integrado das funções mentais superiores deve levar em consideração o desenvolvimento dos diversos tipos de sociedades humanas. Sem negar as reacções inatas dos organismos aos estímulos, Vygotsky concentra toda a sua atenção na interacção social entre as crianças e os adultos instruídos, de modo a mostrar o carácter social da vida mental do homem. E é a partir do social e do tipo específico de organização social que Vygotsky e Luria abordam o cérebro nas suas relações com a mente. O estudo da relação entre a aprendizagem e as mudanças nas estruturas cerebrais permite-lhes antecipar uma espécie de neurodarwinismo: a eliminação de neurónios e a selectividade de determinados circuitos neurais ocorrem com base na experiência social. O princípio de Vygotsky segundo o qual não há progressão sem regressão ajuda a compreender como a experiência social pode fortalecer determinados circuitos e redes neurais e atrofiar outros, a partir de uma abundância inicial de neurónios: mais importante do que a densidade neuronal ou do que o tamanho do cérebro é o uso selectivo a que o sistema nervoso é submetido pela natureza - rica ou pobre, favorável ou desfavorável - das interacções sociais, o qual impulsiona todo o desenvolvimento. (Veja este estudo sobre o cérebro social.)
No seu último curso de Filosofia, Theodor W. Adorno desafiou os seus alunos graduados a dedicar mais tempo a resolver o problema alma/corpo, esquecendo que a dialéctica vista como luta entre conceitos e mediação entre opostos abre uma via para a clarificação das relações entre alma e corpo, resistindo à imobilização e à dominação instrumental da natureza e do homem: a "solução" dialéctica deste problema clássico da filosofia exige uma teoria da sociedade e, mais especificamente, uma teoria da formação social e cultural da mente. No tempo autoritário do Culto da Personalidade, os intelectuais russos acentuavam a importância fundamental do diálogo com os outros e da interiorização desse diálogo como estrutura da própria fala interior. Mikhail Bakhtin defendia que todos os nossos pensamentos são formas de diálogos interiorizados com os outros, cujas vozes são interiorizadas, retrabalhadas e incorporadas à nossa própria voz. Embora a voz de uma pessoa possa dar a ilusão de unidade ao que diz, ela está constantemente a expressar uma plenitude de significados, uns intencionais e outros não intencionais, como se duas ou mais mentes estivessem entrelaçadas numa só cabeça e numa só consciência dialógica alargada ou expandida: as vozes duplas ou múltiplas funcionam como centros de uma só consciência. Bakhtin define a natureza social do indivíduo e do psiquismo nestes termos: «A consciência individual é um facto sócio-ideológico». Ora, dado ser de ordem sociológica e não derivada directamente da natureza, a consciência individual não pode explicar nada, devendo - ela própria - ser explicada a partir do meio ideológico e social: «O indivíduo enquanto detentor dos conteúdos da sua consciência, enquanto autor dos seus pensamentos, enquanto personalidade responsável pelos seus pensamentos e pelos seus desejos, apresenta-se como um fenómeno puramente sócio-ideológico. Esta é a razão porque o conteúdo do psiquismo "individual" é, por natureza, tão social quanto a ideologia e, por sua vez, a própria etapa em que o indivíduo se consciencializa da sua individualidade e dos direitos que lhe pertencem é ideológica, histórica, e internamente condicionada por factores sociológicos. Todo o signo é, por natureza, social, tanto o exterior quanto o interior» (Bakhtin). Esta ideia dos signos e do seu valor constitui o princípio fundamental da teoria do desenvolvimento de Vygotsky sobre o uso de instrumentos psicológicos pelo macaco (W. Köhler), pelo homem primitivo (Lévy-Bruhl, A. Luria) e pela criança: as formas de comportamento são encaradas como actividades semióticas que organizam e transformam os objectos em signos culturais, ampliados, desenvolvidos e usados pelos macacos e pelos seres humanos para manipular ou mediar o ambiente e para comunicar com os outros a respeito do mundo. A consciência humana abriga-se nas imagens, nas palavras, nos gestos significativos, enfim nos signos sociais: a sua lógica é a lógica da interacção semiótica de um grupo social. Fora desse elemento material, não há propriamente consciência humana, mas simples actos fisiológicos não iluminados pela consciência.
As afinidades com a teoria da génese social do eu de George Herbert Mead ou mesmo com a teoria do eu do espellho de Charles Horton Cooley tornam-se evidentes, mas a análise genética que Vygotsky realiza da relação entre o pensamento e a palavra falada é autónoma e original: «O pensamento e a linguagem, que reflectem a realidade de um modo diferente do da percepção, são a chave da natureza da consciência humana. As palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também no crescimento histórico da consciência como um todo. Uma palavra é um microcosmos da consciência humana» (Vygotsky). O estudo da fala é fundamental para a resolução de questões práticas a respeito da escola, da criação e da educação da criança, porque, segundo uma teoria psicológica dominante, a fala desempenha um papel decisivo no pensamento entendido como a fala menos o som. Quando reflecte, o homem adulto cultural fala inaudivelmente para si mesmo aquilo que está a pensar. Vygotsky submete esta teoria a uma revisão crítica: a fala e o pensamento possuem raízes diversas, podendo ocorrer separadamente não somente nos estágios iniciais do desenvolvimento, mas também na vida adulta, como mostrou a pesquisa da Escola de Würzburg. Porém, a partir de determinado período do desenvolvimento infantil, o pensamento e a fala convergem e influenciam-se reciprocamente, colocando o pensamento humano numa altura sem precedentes e possibilitando a formação de novos conceitos. Vygotsky acompanha de perto a teoria da linguagem de Karl Bühler: a função primordial da fala, tanto nas crianças como nos adultos, é a comunicação e o contacto social. A fala mais primitiva da criança é essencialmente social, global e multifuncional, mas a partir de certa idade as suas funções começam a diferenciar-se, dividindo-se nitidamente em fala egocêntrica e fala comunicativa. A fala egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e pessoais. Jean Piaget estudou esta tendência da criança a transferir os padrões sociais de comportamento para os seus processos interiores, dando origem às primeiras manifestações da reflexão lógica. Segundo Vygotsky, algo semelhante ocorre quando a criança começa a conversar consigo mesma da mesma forma que conversa com os outros, sendo levada pela força das circunstâncias a pensar em voz alta. Dissociada da fala social, a fala egocêntrica leva, com o decorrer do tempo, à fala interior que alimenta tanto o pensamento autístico como o pensamento lógico. A fala egocêntrica constitui o elo genético primordial na transição da fala oral para a fala interior: o esquema de desenvolvimento esboçado por Vygotsky - primeiro a fala social, depois a fala egocêntrica e, por fim, a fala interior, diverge tanto do esquema behaviorista (fala oral, sussurro, fala interior) como da sequência de Piaget que, a partir do pensamento autístico não-verbal, passa à fala socializada e ao pensamento lógico, através do pensamento e da fala egocêntricos. Assim, para Vygotsky, o verdadeiro vector do desenvolvimento do pensamento não vai do individual para o socializado, como sucede em Piaget ou mesmo em Freud, mas sim do social para o individual: «O desenvolvimento do pensamento é, como escreve Vygotsky, determinado pela linguagem, isto é, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural da criança. Basicamente, o desenvolvimento da fala interior depende de factores externos: o desenvolvimento da lógica na criança, como os estudos de Piaget demonstraram, é uma função directa da sua fala socializada. O crescimento intelectual da criança depende do seu domínio dos meios sociais do pensamento, isto é, da linguagem. /A natureza do próprio desenvolvimento transforma-se do biológico para o sócio-histórico. O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais do pensamento e da fala» (Vygotsky). O desenvolvimento da criança não pode ser reduzido ao mero crescimento e maturação de qualidades inatas: a superioridade do intelecto do arquitecto em relação ao instinto da abelha (Marx) deve-se precisamento ao mecanismo da fala interior, do qual depende a reestruturação total da mente da criança e das suas funções psicológicas e cognitivas superiores, incluíndo o desenvolvimento da consciência e a organização do futuro comportamento da personalidade.
J Francisco Saraiva de Sousa

38 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vygotsky e a escola russa são deveras fascinantes, mas, em princípio, não pretendo explicitar toda essa riqueza, preferindo acentuar a sua triste recepção por cérebros atrofiados. A pedagogia de Vygotsky é uma pedagogia do esforço e do aperfeiçoamento contínuo - exige o despertar pleno da memória. Ora, a burocracia pedagógica atrofiou a memória e empobreceu de tal modo a linguagem que priva os alunos de adquirir os instrumentos necessários para solucionar problemas. É pedagogia gorda e feia: liquida literalmente as funções superiores da mente. Pedagogia zombie! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, isto tb vem a propósito do programa Plano Inclinado (?) da SicNotícias. Ontem, estive em sintonia com Fátima Bonifácio! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os que me acompanham devem pensar - trata-se de uma teoria materialista da mente vista como produto da actividade cerebral! Ora, eu tenho mostrado abertura em relação à mente. Porém, o momento materialista nunca foi rejeitado, mas a filosofia marxista e dialéctica exige a sua superação, exige consciência e mente aberta. Vygotsky capta isso e introduz um elemento idealista condenado pelos colegas mais ortodoxos. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, o Nuno Crato (?) que fala nesse programa parece não ter perfil para a missão que pretende desempenhar. À partida, a análise psicológica revela mais "outro padrinho". Ora, o nosso problema nacional é precisamente a teia de padrinhos mafiosos! Percebem? ;)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Por exemplo, ele gozou com a sociologia da educação - e com razão no sentido que foi dado ao debate -, mas, para interpretar o gráfico da produção científica nacional, precisava de instrumentos sociológicos e psicológicos para o interpretar. Deu uma interpretação literal e falsa, como mostrou em parte Fátima Bonifácio! Que defendeu a ideia corajosa: os professores não são inocentes; eles tb são culpados pela destruição do sistema de ensino, até porque são burrecos diplomados no ensino daquilo que desconhecem! Crato frisou isso, mas sem instrumentos adequados de análise!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bolonha é o erro total, o coveiro da universidade. Outro erro reside nas políticas de doutoramento, para já não falar da merda dos mestrados: a carreira universitária não deve começar pela exigência de doutoramentos. Um professor catedrático precisa ter a sua equipa de assistentes que acompanha de perto. Doutorados exteriores invadem o sistema em busca de mero emprego: ELES NÃO SABEM LITERALMENTE NADA. SÃO BURROS DOUTORADOS NA MERDA!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A degradação do ensino universitário - agravada pelo cunhismo nacional - é total. A pesquisa que se faz não tem qualidade em geral, até porque é feita de modo mecânico com livro de instruções - enfim, não exige domínio do conhecimento, criatividade e trabalho de pensamento: os procedimentos são meras rotinas que podem ser aprendidas numa manhã por um labrego qualquer! A situação é muito má!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Portugal não tem quadros competentes: anda tudo à caça de emprego e de poder, nada mais! Isto é o horror total: a democracia não construiu nada de bom; pelo contrário, destruiu o pouco que havia - tudo foi oportunismo e possibilidade de ascensão social sem esforço ou mérito!

E outra coisa: não pensem que esta malta é respeitada no estrangeiro, porque não é; lá eles querem apenas não de obra barata e servil, nada mais!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas isto tb é o resultado da visão economicista do ensino e da cultura: os economistas destruiram tudo. Pensamento quantitativo é desgraça da humanidade! É preciso ser inteligente e pensar..., porque Portugal é um buraco negro bem feio!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sei que é duro dizer isto, mas paciência: o português "normal" - típico - não tem vida psicológica superior: ele não consegue compreender grupos ou pessoas com diversos tipos de inteligência apurados; não se integra; exclui-se ou é excluído. É básico o processo...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, uma vez após ter concluído uma conferência sobre educação, um assistente de filosofia que gostava de exibir às meninas o seu pénis feio tentou colocar-me uma questão fatal - isto a propósito da dominação de si. Ora, a questão foi fatal para ele: afinal, não sabia do que falava. Espero que morra depressa e em sofrimento. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aliás, em sofrimento já está: desejo-lhe tortura mental num prolongamento artificial da sua vida miserável! Erro fatal! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, uma resposta pública a um e-mail que me enviaram: eu não escrevi a segunda parte do post dedicado ao dualismo interaccionista de Eccles, porque acho precipitado avançar com a sua hipótese sem termos esgotado todas as possibilidades - temos conhecimentos profundos para consolidar e integrar. Porém, o dualismo não foi desmentido mas descartado em nome de um credo que está a destruir a terra. Aquilo que a "epistemologia" abre não pode ser fechado pela "ontologia": não posso vedar essa possibilidade dita ontológica, porque todos sabemos que há uma ontologia da primeira pessoa. O espírito humano não deve irromper no mundo como os anjos talmúdicos: Deus cria-os e depois tira-lhes a vida. O universo é mais complexo: o materialismo não pode negar todos estes enigmas ligados à vida e ao espírito. adiando sempre a sua explicação.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aliás, a estratégia materialista redutora é matar as funções superiores - o materialismo redutor é regressivo que procura controlar o homem tirando-lhe a sua humanidade. Quem aceita essa redução está a aceitar ser tratado como uma besta. É contra esse futuro que começa a realizar-se que luto: não quero ver o homem domesticado e depois reduzido a nada. O projecto tecnológico é político - visa a dominação do próprio homem, sonhando já com a sua substituição pela máquina. Este pesadelo é possível - a luta deve ser travada contra a realização desse pesadelo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aquilo a que chamo o "metabolicamente reduzido" é já uma figura realizada desse pesadelo!

André LF disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André LF disse...

Olá, Francisco! Gostei dos temas dos seus últimos posts. Vou lê-los agora.

Este tem sido um ano muito difícil para mim: excesso de trabalho e pouco retorno financeiro. Cenário lastimável, fruto da especulação financeira insana dos capitalistas cretinos que têm levado nosso planeta à obscuridade.
Os efeitos desta crise persistem , mas muitos preferem ignorá-los... Agora vamos ter o carnaval e os brasileiros tupiniquins vão chafurdar nos excessos da carne. Até mesmo Dioniso sentirá vergonha.
Muitas vezes tenho vergonha de ser brasileiro.

Sim, a figura do ser metabolicamente reduzido está cada vez mais hegemônica. No país lastimável em que vivo, tais seres brotam como minhocas...
Um abraço

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá André

Aqui está muito frio, mesmo muito frio. Hoje a chuva parou, mas agora o tempo está a arrefecer. Mas - por outro lado, o tempo político está maluco e é uma vergonha ser português, nesse sentido. Efeitos da crise, ou melhor, das crises: Portugal e o Brasil partilham uma crise estrutural comum. Aqui a vida é tb carnaval. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hummm... Foi preciso criar um novo parágrafo para evitar a extensão do post! :)

Unknown disse...

Continue continue :)
eu ando a ler aqui o Situaçoes, do Sartre :)
brilhante interp dele sobre o Bataille, btw*

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tinha a intenção de contornar o funcionalismo - a organização funcional do cérebro, mas dentro do quadro teórico desta escola ele está bem pensado: a função faz o órgão, o que reconduz a W. James. O cérebro em desenvolvimento é aqui "moldado", configurado, pelo meio social e ideológico, o que supõe um mecanismo selectivo.

Ya, vou continuar mais tarde ou amanhã. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, já descobri uma dificuldade de fundo que pode ser resolvida a partir de conhecimentos mais recentes, mas não vou tratar dela porque exige conceitos mais complexos. Porém, aconselho moderação na recepção da teoria, porque ela tem uma dimensão política democrática e não implica um cogito sobresocializado, de resto bem mais visível no eu do espelho. O que disse sobre Freud ajuda a demolir a sobresocialização. Repare-se que aquilo a que chamei a consciência dialógica alargada não coincide com a consciência colectiva de Durkheim: o próprio Vygotsky não captou essa diferença, apesar da atenção que deu à memória. Sobresocialização é algo contra o qual a teoria de Marx luta! É uma noção antimarxista e antidialéctica! A biologia possibilita livrar-nos dessa cristalização inestética!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O FCPorto humilhou o Atlético de Madrid: levaram três golos (3-0, claro 3 do Porto). Um tal Simão dos limões formado na corrupção manhosa encarnada simulou penalty e levou cartão. Na liga, os árbitros não apitam encarnado, como sucedeu no jogo da nossa liga entre o Benfica e a Académica: uma vergonha de jogo simulado!

Iacobus disse...

Este post é muito interessante: aguardo q o termine. :)

Uma curiosidade: Esse "metabolicamente reduzido" - nao tenho agora oportunidade de confirmar - adoptou-a de Nietzsche, do Ecce Homo? Tenho quase a certeza de a ter lido lá, embora as quase-certezas nunca sejam certas... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá Tiago

Não adoptei nada de Nietzsche: o metabolismo vem da fisiologia e Marx usa-o para referir a relação metabólica do homem com a natureza - a noção de trabalho ou de labor que visa a satisfação de necessidades básicas. De resto, o conceito de homem metabolicamente reduzido é meu e uso-o num outro sentido mais amplo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, vou tentar concluir hoje, mas estou com ligeiras tonturas: o computer está a mexer com o meu cérebro. :(

Iacobus disse...

Sim, mas referia-me à expressao escrita em si, pelo menos como foi traduzida. Pode ter sido mera coincidencia, daqui a uns tempos confirmo, ou nao, a minha impressao.

Ya, os computadores sao peritos em atrofiar o cérebro :) Bom trabalho!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, como já se vê, a pedagogia de Vygotsky é exigência: domínio total da linguagem, do qual decorrem os outros aperfeiçoamentos cognitivos, incluíndo a consciência. Porém, para evitar a leitura dos atrasados mentais, optei por não explicitar os mecanismos, porque, se o fizesse, sei que a pedagogia do atrasado mental, em vez de fornecer os instrumentos adequados para o desenvolvimento cognitivo, iria tentar ensinar à criança esses mesmos mecanismos - uma espécie de aprender a aprender sem saber o quê! Portanto, as grandes pedagogias foram desvirtuadas pelas pedagogias administrativas e burocráticas. Enfim, os profs foram tolinhos, são tolinhos, até porque não dominam nenhuma pedagogia, mas apenas receitas administrativas. :P

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mais - Vygotsky e colaboradores estavam interessados em fomentar rapidamente o desenvolvimento cultural da Rússia atrasada: eles contribuiram para esse desenvolvimento nacional, o que não foi feito em Portugal depois do 25 de Abril. Eles conheciam os mecanismos da evolução e da regressão: a Rússia desenvolveu-se culturalmente, apesar do regime autoritário, mas Portugal democrático regrediu..., com a sua pedagogia do atrasado mental. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, parece que estou lento, mas não estou: o post sempre esteve mentalmente concluído. Detectei diversas possibilidades - e dificuldades - teóricas, que estou a solucinar e talvez possa partilhar uma ou outra via. Até pensei noutro post: Exercício Metadialéctico, com o objectivo de ir um pouco mais longe. A dialéctica tal como a pratico não permite esse tipo de especulação: ela escuta constantemente o apelo do mundo e da empiria. E tal como a pedagogia de Vygotsky - também ela dialéctica - está ao serviço da transformação do mundo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, já devem ter compreendido que estou a criticar os meus mestres: não há um só marxismo soviético - um oficial (censurável), outro de oposição. É evidente que Vygotsky e outros fazem parte do marxismo ocidental: o pensamento conservador mas democrático americano tentou integrá-lo, enquanto a esquerda anda histérica e sem rumo. Em Portugal, as extremas-esquerdas e as direitas são a mesma coisa - histeria. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O núcleo duro da psiquiatria dialéctica está cada vez mais sólido e forte: os conceitos que operam as sucessivas integrações começam a ter rosto. A teoria unificada começou a respirar, mas ainda precisa de alguns cuidados! Ah, a solução dialéctica do problema alma/corpo precisa nomear um convidado deveras estranho mas sempre presente. Como ainda não tenho a palavra correcta, uso termos de proximidade, talvez desdobramentos desse mesmo convidado!

Unknown disse...

Tiago r disse...

Este post é muito interessante: aguardo q o termine. :)

Uma curiosidade: Esse "metabolicamente reduzido"



_________________________

Sim, Nitx usa expressao parecida incluindo a ideia de metabolismo.
Alias tudo o q o francisco, marx, vygotsky, psiquiatria dialetica etc etc teorizam vem tudo de nietzsche. Nem sei pra q perdem tempo.




:)))



LOL, hj acordei n eram ainda 5am. Aproveitei para ver o restante do doc do SARTRE por ele mesmo, e, entretanto, baixei 2 filmes em 30m hihi


take a look

Rohmer
http://www.youtube.com/watch?v=m3b129zbrSE

agnés varda
http://www.youtube.com/watch?v=PjPmHslgazw



zzzZZZzz

Unknown disse...

http://www.youtube.com/watch?v=m8vujRR-9zE&feature=related


bamo ber se se arranja tradução pra esse ^^

Unknown disse...

ah! este postei hoje no IP Sons

http://www.youtube.com/watch?v=SlnAYeWWwt8


gotta lunch \0/

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok, aguardo pela indicação de Nietzsche, mas não vejo como a sua perspectiva pode dar sentido ao meu conceito! Eu não vi o uso da expressão nele! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, a tuberculose matou muito cedo Vygotsky e o aparelho repressivo do Estado soviético desmontou o Instituto de Psicologia, expulsou Luria e silenciou a psicologia do desenvolvimento em nome de uma "ciência comportamental" que visa unicamente condicionar o homem. O post está concluído.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os links que estabeleci aqui, juntamente com outros posts anteriores, mostram a amplitude do meu empreendimento: a psiquiatria dialéctica já respira - e respira bem. E a tal teoria médica começa a ser esboçada! :)