quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fetichismo Sexual

«Todo o amante sente-se atraído, de maneira especial, por algum aspecto individual da sua amada ou por algum dos vários objectos que entram em contacto com ela. Porém, esta tendência torna-se anormal quando é exclusiva ou generalizada, e transforma-se num desvio verdadeiro quando o próprio fetiche, mesmo na ausência da pessoa, se revela perfeitamente capaz não apenas de activar a tumescência mas de provocar a detumescência, de maneira que não há absolutamente nenhum desejo pelas relações sexuais». (Havelock Ellis)
Na sua teoria do «eu genuíno» e do «eu cosmético» ou, mais precisamente, do duplo-mundo dos homens homossexuais, E. Hooker observa que «nada é mais notório no mercado do bar gay que a ênfase na aparência: vestuário, modos, aspecto físico». M. Hoffman reconduz correctamente essas observações ao fetichismo sexual que, juntamente com a promiscuidade sexual, parece predominar no mundo gay. Deixaram por apurar as relações que existem entre estes fenómenos e o culto fálico predominante na estrutura e na prática da moderna ideologia gay. Com efeito, mais importante que um «rosto bonito» é um pénis grande, sobretudo em certos lugares públicos, como por exemplo as praias periféricas. O critério gay da aparência reduz-se, em última análise, ao tamanho do pénis do seu potencial parceiro sexual. Se este não pode ser visualizado e ponderado directamente por observação, pode, pelo menos, ser avaliado através de métodos indirectos, tais como «volume», «chumaço», «papo», «mala», tacto, tamanho das mãos, comprimento e grossura dos dedos, compleição física robusta e firme e pela altura geralmente associada à robustez física. No fundo, o culto da masculinidade mais não é que o culto fálico ou, como dizem, o "culto da verga". Se estudarmos atenta e minuciosamente a evolução da literatura pornográfica gay, bem como dos filmes pornográficos homossexuais, constatamos facilmente que, a partir sensivelmente dos anos setenta e sobretudo oitenta, os actores são geralmente "bem dotados" e a sua actividade sexual torna-se bastante agressiva: a associação do fetichismo com o sadomasoquismo e o exibicionismo é particularmente evidente.
O termo fetichismo tem sido usado em, pelo menos, três sentidos: antropológico, filosófico e psiquiátrico. Antes de analisarmos o fetichismo sexual propriamente dito, iremos explicitar o fetichismo em cada um dos sentidos referidos, com a finalidade de apreender o que têm em comum e de que modo podem contribuir para a clarificação do próprio conceito de fetichismo sexual.
SENTIDO ANTROPOLÓGICO. Os traficantes de escravos, vindos de Portugal, utilizaram, pela primeira vez, o termo feiticismo, para significar "coisa enfeitiçada" ou "coisa embruxada", aplicando-o às religiões da costa de África. Desde então, na antropologia social e cultural, o termo feiticismo acabou por se tornar sinónimo de religião primitiva. Nesta perspectiva, o homem arcaico adora certos objectos e lugares naturais (pedras, árvores, colinas, cavernas) ou confeccionados com a mesma finalidade (estacas cravadas no solo, estatuetas). Esta atitude do homem arcaico exprimia o essencial da sua vida religiosa. Nalguns casos, o termo feiticismo adquiriu um sentido pejorativo, passando a designar apenas a idolatria dos povos primitivos.
Contudo, ao contrário do que se pensava inicialmente, o objecto-feitiço não é adorado em si mesmo, já que não detém espontaneamente um poder oculto ou sobrenatural. Com efeito, este poder é quase sempre introduzido no objecto-feitiço pelo sacerdote, pelo mago ou mesmo pela própria divindade. Assim, o feitiço mais não é que um receptáculo ou um suporte de forças que lhe são «exteriores». Dado que o feitiço não é uma divindade, podemos dizer que o feiticismo não resume toda a religião primitiva. Actualmente, a palavra feiticismo pode designar três coisas:
a) o respeito testemunhado aos encantamentos, aos amuletos, aos manipansos que um crente ingénuo, seja qual for a sua religião, traz consigo;
b) determinados desvios do religioso autêntico, os quais, tal como a superstição, não poupam as religiões mais evoluídas ou acabam por tomar o seu lugar quando há degenerescência, particularmente evidente nos casos em que se manifesta um deslize do símbolo para o seu suporte material;
c) enfim, a partir do facto de feitiço derivar de facticiu, que significa criado de fio a pavio e, por extensão, fabricado e manipulado, a manipulação do sagrado. Neste sentido, toda a religião é mais ou menos feiticista, na medida em que o sacerdote se define, no sacrifício, como um manipulador de forças sobrenaturais que opera segundo os cânones litúrgicos.
Convém não confundir feiticismo e feitiçaria. O termo feitiçaria só pode ser compreendido nas suas relações com os termos religião e magia, da qual o xamanismo é um caso particular. Se, na peugada de Mircea Eliade, definirmos a religião como «a cosmificação feita de maneira sagrada» (Peter Berger), constatamos facilmente que a função primordial do cosmos sagrado, que transcende e inclui o homem na sua ordenação da realidade, é fornecer «o supremo escudo do homem contra o terror da anomia» (Peter Berger). Daqui resulta o carácter eminentemente social da religião. Ao lado da dimensão social da religião, encontram-se as manifestações arreligiosas da magia (associal) e anti-religiosas da feitiçaria (anti-social). De certo modo, a magia é uma forma religiosa, na medida em que o mago, tal como o sacerdote, se esforça por captar as forças visíveis ou invisíveis, a fim de as integrar na rede das acções humanas. No entanto, trata-se de uma manifestação religiosa associal. Com efeito, as forças invocadas ou postas em jogo pelo mago quedam-se amiúde mal definidas, quando não são ocultas. Assim, a magia mais não é que uma técnica que o homem elabora para se apropriar do sagrado e manipulá-lo no sentido que lhe interessa.
Ao contrário do sacerdote ou mesmo do mago, o feiticeiro situa-se manifestamente fora da sociedade e frequentemente a sua acção visa a desintegração do grupo. Deste modo, o ser ou o indivíduo reputado feiticeiro — seja ele homem dotado de poderes extraordinários ou uma entidade particular revestindo forma humana — coloca-se sistematicamente à margem do grupo e, em vez de contribuir com a sua acção para a coesão social, contribui para a sua desintegração. Assim, a desordem do mago consiste somente em tirar partido — para ele e para a sua clientela — das forças que capta, enquanto a desordem do feiticeiro destrói o próprio equilíbrio destas forças, uma vez que a relação que mantém com o pseudo-sagrado é essencialmente geradora de anomia, isto é, dispensadora de força impura. Como escreve Ortigues: «A magia pressupõe geralmente um intermediário material, um instrumento, expedientes, enquanto a feitiçaria não utiliza intermediário algum, a não ser, por vezes, o alimento; ela é um poder interior, psíquico, veiculado por uma substância intra-orgânica que não raro se julga poder descobrir no ventre fazendo a autópsia do feiticeiro falecido. É teoricamente possível surpreender um mago a operar, ao passo que só um vidente ou um oráculo é capaz de referenciar formalmente a feitiçaria. Enfim, a feitiçaria é sempre má, ela não tem senão um fito: a morte; ao invés, a magia, a do curandeiro, do caçador de feiticeiros, pode ser um meio de lutar contra os feiticeiros; alguém que deseje proteger-se destes pode munir-se de um “bom medicamento” (a good medicine), de um talismã». Podemos, pois, definir a feitiçaria como uma forma de agressividade que opera, à distância e sem intermediários, malefícios frequentemente terríveis, para fins inconfessáveis (vingança, pacto com os diabos). É, por isso, que o feiticeiro é uma figura muito perigosa e que a sociedade empreende o que está ao seu alcance a fim de neutralizar os seus malefícios. A função de coesão social da religião não chega a realizar a comunhão social e, além de não dominar a pluralidade, ela própria suscita muitas vezes conflitos.
SENTIDO FILOSÓFICO. Na obra O Capital, Karl Marx fala de feiticismo da mercadoria. Como vimos, no seu sentido antropológico, a palavra feitiço designa um objecto artificial ou natural provido de encanto e mistério e, por vezes, de poderes sobrenaturais e mágicos. O conceito marxista de feitiço retoma o seu sentido religioso, associando o feiticismo com a reificação. Desta associação resulta que o feitiço surge sempre como produto de uma objectivação, de uma projecção na exterioridade ou de um processo de coisificação. Nesta perspectiva, a sociedade capitalista é uma sociedade feiticista e reificada, na medida em que nela todas as relações humanas aparecem como relações entre coisas: o humano desaparece no objecto produzido pela sua actividade. O conceito de feiticismo da mercadoria designa precisamente o facto do produto do trabalho humano tomar a forma de uma mercadoria, quando na verdade é a expressão de uma actividade humana, e a mercadoria surgir dotada de existência independente. Nesta situação de alienação total, as mercadorias trocadas determinam as relações sociais entre os homens e o valor de troca da mercadoria determina o estatuto social dos indivíduos. O dinheiro passa a ser o substituto de todas as mercadorias e, como tal, é o feitiço absoluto e universal. Embora sejam os homens que fazem a história, a sociedade capitalista explica tudo pelas leis naturais da economia e pelas relações entre as coisas. Nesta mistificação ideológica, a aparência dissimula a realidade humana e social.
A mercadoria e o capital parecem ser dotados do poder mágico de produzir valor. A circulação das mercadorias parece fazer-se através de «um verdadeiro Éden dos direitos naturais do homem e do cidadão», onde reinam a Liberdade, a Igualdade e a Propriedade, quando na verdade aquilo de que se trata é da compra e da venda da força de trabalho. O salário parece justo, na medida em que é uma quantidade de dinheiro que substitui uma quantidade de trabalho correspondente, mas na verdade trata-se de uma força de trabalho que só é paga em parte. Como escreve Marx: «Aquilo que, no mercado, corresponde directamente ao capitalista não é o trabalho, mas sim o trabalhador. O que este vende é ele próprio, a sua força de trabalho… O trabalho é a substância e a medida inerente dos valores, mas não tem ele próprio qualquer valor». Segundo Henri Lefebvre, na sociedade capitalista, «as formas da sua actividade, do seu poder criador, libertam-se dele e o homem começa a crer na sua existência independente. Desde as abstracções ideológicas e o dinheiro até ao Estado político, tais feitiços parecem vivos e reais e são-no em certo sentido, pois dominam o homem». A moeda, a mais-valia, a força social do trabalho e tantos outros feitiços são exemplos deste feiticismo mistificador que transforma as relações sociais «em qualidades das próprias coisas… e as relações de produção numa coisa, o dinheiro».
De resto, o feiticismo da mercadoria engana os próprios capitalistas, levando-os a tomar o acessório pelo essencial. Com efeito, a acumulação do capital torna-se um fim em si mesma, em detrimento da fruição dos bens de consumo. O dinheiro-feitiço subjuga todos os indivíduos com o seu encanto. Herbert Marcuse vê nesta forma de vida, fechada e sem liberdade, veiculada pelo sistema capitalista, «a reificação total do feiticismo total da mercadoria». Georg Lukács considera que a teoria marxista da economia política deve descobrir, sob a aparência das relações objectivas naturais, a realidade das relações sociais humanas. A contestação política é fundamentalmente a luta contra a reificação.
SENTIDO PSIQUIÁTRICO. Numerosos psiquiatras do século XIX, entre os quais Krafft-Ebing, tinham referenciado o feiticismo, ou melhor, o fetichismo como desvio ou perversão sexual, chamando fetichista ao indivíduo que não consegue obter satisfação sexual a não ser na presença de qualquer coisa muito particular, tal como uma parte do corpo (pés, cabelos), uma peça de vestuário (botas) ou qualquer outro objecto, que constitui o seu fetiche. Este último é sempre específico para cada fetichista.
Coube a Freud explicar o fetichismo num artigo datado de 1927. Para Freud, o feitiço é um substituto do falo da mulher, em que a criança e, mais precisamente, o rapaz primeiramente acreditou. Como diz Freud, «a nenhum ser masculino é provavelmente poupado sentir o terror da castração quando vê o órgão genital feminino». O feitiço, substituto do falo que falta à mulher, manifesta uma denegação da castração: «É o sinal de um triunfo sobre a ameaça de castração e uma protecção contra essa ameaça». É preciso, aliás, acrescentar que o fetichismo se caracteriza por um processo de clivagem entre a relação com a realidade (saber que a mulher não tem pénis) e a função do feitiço (manter a convicção de que ela tem um).
Em suma, a palavra feiticismo é usada em três acepções fundamentais: antropológica, filosófica e psiquiátrica. Na sua acepção antropológica, o feiticismo designa «uma conduta mágica na qual os objectos funcionam como seres dotados de poderes sobrenaturais» (Favrod). Com a expressão feiticismo da mercadoria, Marx designava a mistificação ideológica, segundo a qual o produto do trabalho humano toma a forma de uma mercadoria dotada de uma existência independente que domina as relações sociais humanas. A psiquiatria fala de fetichismo em conexão com um tipo específico de perversão sexual, na qual o indivíduo é sexualmente excitado por uma parte do corpo do seu parceiro ou por um objecto não humano que tenha alguma ligação com a sexualidade. As noções marxista e psiquiátrica de feiticismo relevam da problemática antropológica. De facto, as duas acepções partilham alguns aspectos comuns. Por um lado, os feitiços surgem sempre como objectos dotados de poderes mágicos que dominam a vida dos indivíduos. Por outro lado, emerge a ideia de estreitamento da esfera de acção: estreitamento de um encontro existencial rico e completo para uma área de experiência estreita e segmentada. Tal estreitamento da experiência visa capacitar o indivíduo-feiticista a obter um certo controle e um sentido de poder na interacção que estabelece com os outros. Na sociedade capitalista, os homens deixam-se levar pela pletora de objectos materiais, sacrificando assim uma existência rica, não alienada, para executar um trabalho alienado, a fim de serem capazes de adquirir as mercadorias que produzem. A felicidade deve ser atingida através da aquisição de automóveis, roupas, residências, televisores e outros objectos de consumo. Deste modo, a aquisição de bens de consumo converte-se no objectivo fundamental da vida do homem alienado. O domínio do Ter alarga-se a expensas do Ser: o indivíduo «é» aquilo que tem e não o que é em si mesmo. No fetichismo sexual, o indivíduo-feiticista, devido a determinadas perturbações psicológicas, é incapaz de se relacionar com o seu parceiro sexual como um ser humano total e completo, relacionando-se somente com uma parte do seu corpo ou com um objecto que lhe pertença.
Ora, uma das características mais estável da comunidade homossexual, tanto em Portugal como no resto do mundo, é o fetichismo sexual. Com efeito, os lugares públicos frequentados pelos homens homossexuais criam e incentivam o fetichismo sexual mais desumano. Os encontros sexuais que aí se desenrolam são muito breves, medidos em termos de minutos, e ocorrem geralmente nas circunstâncias mais degradantes. Os homossexuais que frequentam esses lugares aprendem rapidamente a não esperar mais do que uma brevíssima experiência sexual reduzida unicamente à busca do sexo pelo prazer do sexo. Hoffman tem toda a razão quando afirma que a fragmentação do sexo em relação aos demais aspectos humanos nunca poderá conduzir à felicidade pessoal ou mesmo a uma adaptação psicossocial satisfatória.
Por conseguinte, podemos afirmar que o traço mais característico da vida dos homens homossexuais típicos reside no facto de devotarem um período de tempo muito longo ao aspecto sexual. Este traço diferencia os homossexuais típicos dos demais homens. Afirmar isso não é o mesmo que dizer que os homossexuais têm um maior grau de sexualidade, medida em orgasmos, que os homens heterossexuais. De resto, Kinsey et al. demonstraram que os homossexuais têm menos orgasmos, sob o ponto de vista temporal, que os homens heterossexuais. A explicação deste facto parece ser relativamente simples. Hoffman considera-o como corolário da promiscuidade sexual que caracteriza o estilo de vida dos homossexuais típicos. Com efeito, se as relações homossexuais são breves, ocasionais e transitórias, é natural que o homossexual tenha de procurar constantemente novos parceiros sexuais, para concretizar o acto sexual. Um indivíduo que tenha um companheiro estável tem mais oportunidades de ter mais relações sexuais que um indivíduo que, sempre que se sentir compelido à actividade sexual, tenha de ir à procura, em determinados lugares públicos, de novos parceiros sexuais. Contudo, estudos recentes mostraram que os homens homossexuais são efectivamente mais promíscuos do que os homens heterossexuais e, nesse aspecto, exibem um traço hipermasculino.
Apesar de associar o fetichismo sexual dos homossexuais típicos com o seu comportamento sexualmente promíscuo, Hoffman sente-se embaraçado quando tenta explicar a relação causal existente entre a promiscuidade sexual e a constante preocupação sexual dos homossexuais típicos. Estamos diante de um paradoxo semelhante ao da galinha e do ovo. Será que a preocupação sexual resulta da promiscuidade sexual ou será que esta última deriva da constante preocupação em encontrar novos parceiros sexuais? Seja como for, a verdade é que, de um ponto de vista puramente descritivo, a promiscuidade sexual e o fetichismo sexual constituem dois traços distintos — mas interdependentes — do estilo de vida típico dos homossexuais. Hoffman refere-se a eles para distinguir a comunidade homossexual como um todo da vida dos heterossexuais. Embora haja muitos heterossexuais obcecados com o sexo-fetiche e muitos deles sejam também sexualmente promíscuos, o fetichismo sexual e a promiscuidade sexual não dominam obsessivamente a vida dos heterossexuais, como sucede com os homossexuais. Além disso, segundo Hoffman, não caracterizam o estilo de vida das lésbicas. Estas afirmações de Hoffman devem ser reavaliadas. Actualmente, verifica-se que os heterossexuais masculinos e femininos são tão promíscuos e fetichistas quanto os homossexuais masculinos e femininos. A homossexualização da vida sexual é um dado adquirido: a única diferença que poderá subsistir entre os diversos estilos de vida é mais uma diferença de grau que de qualidade. Nas sociedades modernas, a degradação sexual é um fenómeno universal.
Estas considerações sobre o fetichismo sexual levam-nos a distinguir duas grandes manifestações de fetichismo sexual na sua acepção psiquiátrica: o fetichismo sexual e o fetichismo erótico, expressão concebida por Binet em 1888. Com a expressão fetichismo erótico, frequentemente empregue por psiquiatras, sexólogos e psicólogos, designamos uma perturbação mental, na qual o indivíduo-fetichista substitui o parceiro sexual humano na sua totalidade por objectos ou partes do corpo. No fetichismo sexual propriamente dito, o indivíduo-fetichista relaciona-se com o seu parceiro sexual somente como objecto-sexual-feitiço, ou seja, somente como vagina no caso dos homens heterossexuais e das lésbicas ou somente como pénis no caso das mulheres heterossexuais e dos homossexuais masculinos. Foi Vladimir Soloviev que forjou o termo fetichismo sexual na concepção que queremos atribuir-lhe, já que disse que, se um homem se relaciona com uma mulher somente como objecto sexual, ou seja, como vagina, existe aí uma forma de fetichismo sexual que, com a excepção de Hoffman, tem sido negligenciada pela maior parte dos psiquiatras modernos. Além disso, os fetichistas sexuais apresentam uma constante compulsão sexual, girando toda a sua vida em torno da actividade sexual. O conceito de fetichismo sexual deve ser diferenciado em si mesmo, de modo a permitir a apreensão conceptual das suas diversas manifestações. Em vez de falarmos de um único tipo de fetichismo sexual, consagrado nos manuais de psiquiatria, devemos falar doravante de diversos fetichismos sexuais claramente distintos e diferenciados entre si, todos eles articulados com a economia-fetiche capitalista. Porém, Lombroso forjou, em 1897, o conceito de "antifetichismo", para designar casos de forte aversão a determinados aspectos ou objectos que poderiam ser eventuais fetiches eróticos: o antifetiche está ligado à repugnância pelos fenómenos sexuais, revelada antes ou depois da puberdade. Hirschfeld atribuiu importância a essa antipatia "sexual" e L. Binswanger preferiu usar a expressão fetiche negativo.
O fetichismo homossexual constitui o traço mais evidente do seu estilo de vida típico. Na maior parte dos lugares públicos frequentados por homossexuais, ocorrem diversas interacções sexuais, das quais o contacto sexual sem obrigação nem compromisso é, conforme acentua E. Hooker, a sua característica mais normal e estável. Chamaremos vagabundagem sexual às diversas formas de promiscuidade sexual que caracterizam as interacções homossexuais, e homossexuais vagabundos, aos seus participantes. Existem muitas formas de vagabundagem sexual e, por conseguinte, vários tipos de homossexuais vagabundos, mas, apesar dessa diversidade, todas essas formas de vagabundagem gay apresentam um traço comum: a ausência de interacções sociais, de comunicação e de envolvimento psico-afectivo nas relações breves e casuais que os homens homossexuais estabelecem entre si. O falo é o seu grande fetiche e todos os outros fetiches (apatá/sapato, armpits/axilas, barbie/homem musculado, bear/homem peludo, burly/homem gordo, carupé/peruca, cheese/dinheiro, cock ring/anel, coins/dinheiro, dildo/vibrador, fist fuck, fisting, fio terra, glory hole, gogo boy, hirsute, hood/capuz, judy/polícia, leather/couro, locked/homem musculado, locks/cabelos penteados, muscle Mary/homem musculado, muscle worship, nena/fezes, picumã/cabelo e peruca, scat/fezes, shaving/rapar os pêlos, spanking/fato de banho, suzie/homem musculado, tickling/cócegas, toys/brinquedos sexuais, urso, cut/pénis circuncisado, uncut, voyeur, watersports, etc.) reconduzem ao fetichismo fálico. O próprio sémen é digerido devido às suas supostas propriedades nutritivas e antidepressivas reais ou imaginárias: o homo sexualis é, pois, homo consumens. Daí que os homens homossexuais tenham de si mesmos uma autodefinição reificada: "Ser gay é gostar do mesmo instrumento". A partir deste imaginário coisificado, torna-se possível mostrar como o fetichismo imposto pela economia-fetiche capitalista tomou conta de todas as outras actividades e práticas sexuais: o homem metabolicamente reduzido é uma mera "coisa", um fetiche. O homem antidialéctico foi, como viu Binswanger, "aspirado pelo mundo" das mercadorias e dos bens de consumo, e a racionalidade económica capitalista tornou-se absolutamente mórbida.
J Francisco Saraiva de Sousa

55 comentários:

Denise disse...

Caro Francisco,
Li o seu texto com interesse genuíno mas tenho as minhas dúvidas quanto à existência efectiva de uma maior promiscuídade no universo sexual. Verdade seja dita que ignoro a validade dos estudos por si apontados, mas daquilo que tenho vindo a observar, a liberdade sexual, por alguns tida como promiscuídade (e acredito que este termo só pode ser usado numa perspectiva cultural e, por isso, relativa), é praticada tanto pelos homo como pelos heterossexuais.
Depois há outro aspecto a considerar: o fetiche como anormalidade. Sê-lo-á efectivamente? O prazer sexual e o modo como ele é obtido difere de pessoa para pessoa. E ser diferente ou ser a-normal não é necessaraimente algo de negativo, desde que, a meu ver, não machuque os outros.

Concordo consigo quanto relaciona fetiche com o Ter para além do verdadeiramente Ser.

De qualquer forma, creio que este seu texto pode ser ofensivo, pois nele parece perpassar alguma tendência para a homofobia... Terei lido mal?

Denise disse...

«Vejo que os nossos "amigos" desapareceram de "cena": Eu sempre disse que a "amizade virtual" deve estar centrada na partilha de ideias e projectos, sem grandes "intimidades" ou objectivos off-line. Com efeito, criamos uma imagem "fantástica" das pessoas que não resiste ao confronto com a realidade. É preciso ter isso em conta: o mundo virtual está cheio de "sonhos" e de "ilusões". Pura fantasia! Convém não perder o contacto com a realidade, porque esta é mais "humana". :)»

As linhas supra-citadas têm algo a ver com a minha belísima pessoa? Se sim, quer ter a gentileza de mas explicar?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Denise

Homofobia? Não, porque deixo claro que estou a tratar do homem e todos são incluídos na categoria homo sapiens sapiens.

Sim, não a tenho "visto" por aqui e, por isso, estranhei, mas deduzo que seja o trabalho a retê-la.

Promiscuidade sexual ou adição sexual são comportamentos que estudo e não podemos fingir que nada acontece, como se estivéssemos obrigados a aceitar a redução humana.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Denise já conheceu um abusador(a) nato(a)? Ui, não devemos entregar o mundo aos abusadores: isso é masoquismo. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Contudo, neste post não exponho o pensamento de ninguém; dou continuidade aos trabalhos já realizados, recorrendo a outra moldura teórica.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há algo surpreendente na sua observação sobre a promiscuidade sexual: Existem pessoas que mudam diariamente de parceiros sexuais ou que fazem regularmente sexo ocasional. É uma questão de gosto ou de ser-diferente ou de ser-livre! Logo, não podemos dar um nome ao seu comportamento? Não compreendi!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Soa-me a ditadura línguística e ideológica! Lá se vai a imaginação criadora... e ficamos com o conformismo mórbido.

A minha posição é contrária: reclama a dialéctica e diz não ao pensamento identificador, de modo a libertar a diferença. :)

Denise disse...

Francisco,
Começo por corrigir as minhas primeiras linhas. O que eu queria efectivamente escrever era:
"Li o seu texto com interesse genuíno mas tenho as minhas dúvidas quanto à existência efectiva de uma maior promiscuidade no universo homossexual" (homossexual em vez de sexual).

Refiro a tonalidade homofóbica na medida em que, apesar de referir a categoria homo sapiens sapiens, deixa clara a tendência para a a-normalidade de comportamento, no que à promiscuidade diz respeito, no universo gay.

Quanto ao conceito de promiscuidade em si, claro que podemos e devemos atribuir nome às coisas e aos comportamentos. No entanto, a palavra «promiscuidade» vem imbuída de uma carga pejorativa que atribuo a séculos de repressão moral de origem judaico-cristã. Pensemos friamente: qual o verdadeiro mal do sexo ocasional ou a mudança diária de parceiros sexuais? Se há pessoas que se sentem felizes assim, isso é com elas e não me parece correcto catalogarmos esse tipo de conduta com terminologias já viciadas do ponto de vista de significação cultural.

Quanto ao meu "desaparecimento", ele tem a ver com o trabalho, sim, mas também com o facto de agora, na casa onde habito, ter de partilhar o acesso ao computador com uma quantidade considerável de pessoas. Logo, a minha disponibilidade já não é a mesma. Mas não compreendo no que é que a minha ausência e a dos seus restantes amigos se relacionará com "objectivos off-line" e "confornsots com a realidade"...

Denise disse...

Mais:
Já conheci um abusador nato no mundo do trabalho. Em termos sexuais, não. Mas comigo não teria hipóteses: não gosto de abusos. :)))

Impressão minha ou acabou de me acusar de ditadora?! :)))
Bem, nada de que não me tenham acusado, confesso-lhe...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Existem homens gay não promíscuos ou sexualmente aditos ou compulsivos, mas a predominância de aditos cria graves problemas de saúde. De resto, não posso acompanhá-la no seu raciocínio, porque leva ao relativismo total e ao caos normativo.

Hummm... muito chato partilhar o computer. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E repare que procurei fundamentar o fetichismo sexual na economia capitalista, a grande feiticeira... :)

Denise disse...

"Promiscuidade sexual ou adição sexual são comportamentos que estudo e não podemos fingir que nada acontece, como se estivéssemos obrigados a aceitar a redução humana."

Pois, mas até que ponto promiscuidade reflecte redução humana? Se eu só conseguir atingir os meus orgasmos com uma pessoa que calce sapatos de veludo, isto torna-me mais reduzida que a mairoia, isto é, que os ditos «normais»?
Outra questão: para a cama eu só vou com um homem inteligente. Isso faz de mim uma feiticheira (= fetiche pelo intelecto)? :))))

Denise disse...

Não sei se serei caótica. Simplesmente sinto que nada tenho a ver com o comportamento sexual dos outros desde que isso não provoque danos e infelicidades colaterais.

Sim, partilhar cp e outras coisas. É chato, mas é relativo, porque agora vivo em ambiente de paz, não há discussões nem lágrimas nem sofrimento ;-)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quando uma pessoa perde o autocontrole e deixa-se manipular pelos impulsos, perde autonomia e torna-se vulnerável a determinadas perturbações conhecidas. E, nestes casos, a racionalidade evapora-se.

Sim, os parafílicos têm inteligência reduzida.

O fetichismo do pé pode indicar masoquismo. Tudo perturbações que podem predispor os seus portadores para comportamentos pouco saudáveis ou mesmo criminais. A compulsão sexual é ditadora!

Sobre si, não posso dizer nada.

Nunca exclui os homossexuais femininos ou masculinos da "normalidade" e não associei homossexualidade = compulsão sexual.

Sim, precisamos de uma Igreja Luterana forte em Portugal, para combater a corrupção. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em suma: a Denise acha a prática de "barebacking" (sexo anal sem preservativo ocasional e com múltiplos parceiros) saudável? Agora, pense que muitos dos que a praticam são homens casados e com filhos! Podem contrair DST e assim acontece! Este é um comportamento inteligente?

Denise disse...

... "desde que isso não provoque danos e infelicidades colaterais."
Foi isto que eu afirmei, Francisco.
Por isso nem sexo anal nem sexo vaginal nem sexo oral sem preservativo, claro está. E isto independentemente de se ser casado ou não e de se ter filhos ou não.
O comportamento que o F refere será, obviamente, um comportamento reduzido.

Denise disse...

E não, não precisamos de Igreja Luterana forte em Portugal coisíssima nenhuma. Isso, assim, parece também uma espécie de ditadura...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Apesar de pensar que há muita gente que podia fazer "sexo desprotegido" e, assim, desaparecer do mundo. (ironia)

Eu admiro a Igreja Luterana: tem moral e, no Norte, não há corrupção. Só no Sul da Europa... :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em última análise, democracia significa: "cada um tem direito ao seu fetiche". Concepção fetichista da democracia explorada e legitimada pelos mass media...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Dado os constrangimentos metabolicamente reduzidos enraizados na recepção, fui obrigado a omitir os desenvolvimentos teóricos do fetichismo e a bloquear a dialéctica fetiche/antifetiche.

Contudo, devo dizer que os novos fetiches eróticos e sexuais são impostos pela economia-fetiche e incorporados pelas criaturas metabolica e mentalmente reduzidas.

Até a este nível detecta-se facilmente a regressão mental e cognitiva daqueles que ainda se consideram humanos. A implicação metodológica deste fenómeno é que não podemos confiar em pesquisas que recorram a questionários ou entrevistas: a burrice é tão banal que não vale a pena dialogar com as cobaias da indústria cultural.

Acrescentei alguns termos de léxico erótico gay para reforçar a ideia de que as pessoas tendem a encarar o seu corpo e o corpo dos outros em termos reificados: qualquer preferência sexual ou prática corporal ou hábito ou coisa pensada é um fetiche. Como aplicar questionários a tais mentes reduzidas a fetiches? :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Gostei de escutar a entrevista do bastonário da Ordem dos Advogados dada à Judite de Sousa: um homem de causas e cheio de razão. Existem bons homens em Portugal, poucos mas bons. :)

E. A. disse...

Por acaso, não acho que o Francisco deixe evidenciar alguma homofobia, se assim aparenta, é mais pelo estilo que emprega.

Também não concordo com essa falsa definição de liberdade: tudo está bem, desde que não interfira com o bem estar do outro.
Sem fazer grande aprofundamento disto, pense em exemplos de parafilias altamente auto-destrutivas, pela segregação psico-social que provocam, e não "machucam ninguém". Tornam-se patológicas, isto é, venerando o artifício, o feitiço, são enfeitiçados e convertidos eles mesmos em objecto de afecção. Isto é o antónimo de liberdade. De "a-normalidade" não sei, porque normal e anormal são categorias demasiado flutuantes.

E. A. disse...

Nota: o comentário acima é à atenção da Denise. :)

E. A. disse...

Algo curioso: li de raspão o seu texto, Francisco, por isso, perdoe-me se seguirei a redizer o que disse, mas, os fenómenos de fetichismo sexual podem ser considerados, hoje em dia, também, como fenómenos de moda, isto é, um modo comportamental adquirido por imitação, até para integração. E, em paralelo, a homossexualidade masculina, ou de forma redutora: o fetichismo pelo pénis ou o culto fálico, seja também uma tendência explicada socio-economicamente. Os meus amigos hetero, ameaçados tantas vezes na sua "virilidade", adorariam ver tal tese demonstrada.

E. A. disse...

"homossexualização da vida sexual"

Encontrei no seu texto. Penso que seja isso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Papillon

Estamos em sintonia e confesso que a crítica da Denise me deixou perplexo, porque, se há coisa que não faria, era perseguir pessoas por terem nascido gays ou qualquer outra coisa. Sim, as parafilias têm essa componente autodestrutiva e heterodestrutiva.
Uma pessoa pode apaixonar-se por alguém que sofra de uma parafilia, exibicionismo por ex., que lhe é omitida. Quando descoberta, pode magoar muito o não-parafílico.
Mas, conforme disse, este post visa outra moldura teórica; não procurei explicar as parafilias, mas mostrar como a economia-fetiche facilita a sua manifestação e a moda é um exemplo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, os homens gay são excessivamente "promíscuos" e sempre o foram, como mostra o aparecimento da cultura do bar nos anos 20 em New York: o estilo de vida gay predominante alastrou-se pelo resto da população. Daí que tenha falado da homossexualização... e a moda conta com muitos homens gay...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hummm... os meus amigos hetero de Lisboa falam-me muito desse comportamento: serem apalpados em público por homens gay, mas penso que são travestis. Aqui no Porto nunca me contaram episódios desse tipo. Em certos meios, sim, isso pode suceder; no Rossio em pleno dia nunca vi.

E. A. disse...

Eu não falava da Moda, mas do facto do fetichismo sexual poder ser uma moda - consumo do que é prescrito. Não sei se me fiz entender e se eu o entendi a si. :(

Não dizia, também, que os meus amigos hetero são apalpados ou assediados por gays; quando dizia "ameaçados", é na constante suposição consciente ou inconsciente (da sociedade) de poderem ser gays. Agora os homens (hetero) têm de "provar", mais afoitos, que são "homens", no sentido em que gostam de mulheres ou q não gostam de homens.

E. A. disse...

Os seus amigos hetero de Lisboa são giros, têm as mãos grandes?

:))) (joking!)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, não têm de "provar" nada; só o fazem se forem um pouco inseguros e sedentos de "aplausos".

Sim, compreendi... O problema hoje coloca-se ao nível da regressão cognitiva e custa mostrar isso às pessoas que aprenderam a ver tudo de modo tão básico: vivem mergulhadas neste ópio e não são capazes de questionar e de pensar a longo prazo. Foquei isso quando falo da fetichização metodológica.

Eu próprio verifiquei isso quando distribui os questionários ou fazia entrevistas. È evidente que a nossa linguagem se deve adptar ao perfil social e educacional dos entrevistados, mas o disparate estava nos universitários e nos licenciados. Foi o que aconteceu com Adorno em relação à regressão auditiva.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Essa "coisa das mãos" tem alguma associação com o tipo morfológico do pénis, mas ainda são necessários mais estudos.

E. A. disse...

Interpretavam incorrectamente as perguntas que lhes fazia?
Quando fala de entrevistas, imagino como no filme "Kinsey". Nesse filme ele tb é super apaixonado por uma mulher e com uma vida sexual muito satisfatória, mas depois apaixona-se pelo seu discípulo. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há sempre essa possibilidade, que merece mais atenção, porque podemos estar a construir um edifício com pés de barro, caso as sexualidades masculinas de género não sejam tão fixas como mostram os estudos. A minha suposição é a de que os homens não podem ultrapassar certas barreiras etológicas sem correr esse risco. E, caso suceda, não significa necessariamente mudança de orientação sexual, porque os hetero mais hipermasculinos alinham nesses esquemas.

Sim, e não sabiam preencher o questionário e as escalas, além da pobreza de vocabulário. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Relendo Ellis, um clássico, tal como Kinsey, sou forçado a dar aprovação à sua tese da ligação do fetichismo e da zoofilia: no culto do couro pode haver aspectos zoofilos... Curioso...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já agora diga aos amigos que nas sociedades onde há homossexualidade institucionalizada os homens aprendem a ser guerreiros ingerindo sémen ou fazendo felatio. Depois casam-se e têm filhos; portanto, não se aprende a ser gay ou hetero...

E. A. disse...

Lembro-me de dois amigos que tiveram experiências com homens para ver se eram homossexuais. Mas, depois, comprovaram-se a si mesmos que não eram. Um, lembro-me de dizer que chegou a perder o pau no acto. Mas conheço vários homens ali no limiar... :)))

Isso n é completamente verdade: não há homossexualidade institucionalizada, tanto que não há possibilidade de haver comportamentos gays, quando adultos.

E. A. disse...

Eu gosto de couro! Mas gosto mais de pele nua. ;)

Vou-me deitar!

Denise disse...

Boa noite, amigos,
Apenas para esclarecer o que me parece confuso:
1. Eu não acuso o F de homofobia, até porque sei que ele não o é. Alertei, apenas, pra o facto de o texto poder passar essa ideia.
2. Isto porque é feita uma relação entre promiscuidade e homossexualidade. Ora, com isso eu não sei se poderei concordar, porque a promiscuidade existe no universo homo mas também no universo heterossexual.
3. Continuo a achar que a parafilia não será necessariamente um mal.A masturbação, o sexo anal e a homossexualidade são comportamentos que já foram considerados parafílicos.
Há parafilias perigosas, obviamente, mas essas enquadram-se nas que atingem terceiros...
Não sei se esta minha forma de pensar me torna numa pessoa caótica ou se subverte o conceito centrado de liberdade.
Lamento :-(

E, já agora, acompanho a Pappy na sua preferência: pele nua. E acrescento: barba feita e uma camisa pronta a desabotoar...
;-)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon e Denise

Não sei o que dizer... Uma vida centrada no sexo não leva a um mundo melhor: mais um ópio. E as coisas não andam bem até ao nível sexual: muitos tipos de abuso aceites e não nomeados por escassez de vocabulário.

As pessoas saudáveis que conheço tiveram uma vida sexual saudável e estável, talvez porque souberam ver a vida por outros prismas.

Boa noite!

E. A. disse...

Sim as categorias mudaram de vida sexual moral para vida sexual saudável!

Mas terá de perceber que a saúde pode não ser o valor primeiro.

Mas o Francisco faz o seu papel! E fá-lo muito bem!

Tenha um bom dia!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bom Dia Papillon

Eu procurei não colocar a questão em termos morais, embora acredite que existam princípios morais universais.

A saúde é um conceito filosófico e é como tal que deve ser encarado: a noção de saúde proposta pela OMS não é médico, mas filosófico e político. Neste sentido alargado, dá conta de outros aspectos para além do "corpo no silêncio dos órgãos". É um assunto a pensar...

Mas em Portugal o que está cancerosamente doente é o sistema das magistraturas..., o nosso buraco degradado... :(

E. A. disse...

Sim, é nítido que não seja apenas uma noção médica, a prescrição da "vida sexual saudável e estável", ou seja, a monogamia, não é apenas médica, mas sobretudo social e política; o bem-estar não é um estado subjectivo, como a felicidade, mas é necessariamente bem-estar social.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou perplexo com alguns estudos: a hiperandrogenização produz machos gay e "pedófilos", embora não-ofensivos.
O raciocínio é este: em função da variação de determinado factor, há sempre um incremento de interesses parafílicos: elevado número de irmãos mais velhos, uso preferencial da mão esquerda. Contudo, esta teoria não explica a ligação entre estes fenómenos e os marcadores neuro-anatómicos.
Mas sou obrigado a aceitar algumas diferenças étnicas: as mães dos machos andrófilos são mais férteis e eles têm elevado número de irmãos mais velhos, irmãs e irmãos mais novos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em suma: a pedofilia não pode ser vista como "a-normal", porque representa um "desvio" hipermasculino. Os homens preferem parceiras mais novas (traço típico de género) e, havendo desvio hipermasculino, correm o risco de ser pedófilos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O estranho é esses traços estarem associados a estruturas neurais ligadas à neuromasculinidade. Porém, tenho uns estudos femininos relativos a pedofilia feminina: imitação?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É um facto estabelecido que o risco de anormalidades pré-natais e de complicações obstétricas aumenta com a idade dos pais. E, na nossa sociedade, as pessoas começam a gerar filhos muito tarde. Isto pode ajudar a compreender algumas regressões detectadas nos jovens.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como digo sempre, as sexualidades de género masculinas são muito fixas e determinadas por factores biológicos genéticos e neuro-hormonais.

E. A. disse...

Sim, os homens são muito fixos e básicos.

Vou ali fazer uma actividade hiper-feminina. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Eu citei uma frase produzida por homens gay: "Ser gay é gostar do mesmo instrumento". Ora, levando em conta toda a ideologia gay, esta frase é fetichista, embora capte a diferença: gay = homem andrófilo.

Apenas acrescento que um gay ou uma lésbica deve ser (e é), tal como os heteros, mais do que um fetiche sexual: são pessoas... Portanto, não fui nem homofóbico nem qualquer outra coisa: apenas constatei e não exclui o hetero-fetiche. Também não disse que a homossexualidade = promiscuidade sexual: novamente constatei que o estilo de vida predominante é promíscuo, embora os homos tenham propensão para serem mais promíscuos do que os hetero. Aliás, julgo que a exclusão gay incentiva esse comportamento e, nesse caso, a sociedade deve mudar de atitude e aceitar plenamente as diferenças sexuais e de género.

Abraço

E. A. disse...

Meus amigos,

Não sei como está o tempo nas vossas aldeias, mas aqui na cidade está um tempo **€§@!!} horrível. :((

Denise disse...

Não se aborreça comigo, Francisco. Peço desculpa se fui brusca, precipitada ou tempestiva. Concordo consigo quanto à premência de uma mudança de atitude da nossa sociedade. Para além da sexualidade, nós somos pessoas, sim.

Aqui está muito ventoso, Papillon. As pessoas fogem da praia...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Está na praia? Nice... Não estou aborrecido. Sabe que gosto da sua maneira de ser intempestiva! Aqui na cidade o tempo está com algum sol... :)

Denise disse...

Não, não estou na praia. Também fugi (do Tobias) :-D
Na cidade está sol e um vento que me agrada.
Abraço

Denise disse...

Hoje pensei muito em si, porque estive a conversar longamente com uma cliente muito simpática que me puxou para a sua beira e me falou sobre o Porto, onde mora, e as diferenças norte/sul.
;-)