segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Millennium BPI?

O debate de hoje do programa «Prós e Contras» (29 de Outubro de 2007) é dedicado à eventual fusão entre o Millennium e o BPI. As questões colocadas são as seguintes: Quais as vantagens e as desvantagens?, Como ficaria o sistema financeiro português?, e O que pode significar para a economia nacional?
Todas estas questões subsumem-se numa questão: A criação de um grande banco português? Mas, mesmo que a fusão ocorra, o novo banco seria o terceiro maior banco da Península Ibérica, um banco mediano ao nível da Europa e nunca seria um banco com capitais exclusivamente portugueses. Daqui parece resultar que esta não é a verdadeira questão, até porque os actuais bancos podem fazer face aos problemas do crescimento económico, desde que bem geridos e administrados de modo transparente, num outro quadro financeiro que privilegie mais o investimento e o apoio às médias e pequenas empresas do que o consumo.
O debate opôs essencialmente duas figuras: o accionista do Millennium BCP, J. Berardo, e o presidente executivo do BPI, F. Ulrich. Os restantes convidados pouco participaram e os que falaram da plateia podiam ter sido dispensados: os dois jornalistas e os representantes dos trabalhadores quebraram o ritmo do debate e eram peças fora do baralho.
A figura marcante e mais transparente do debate foi Berardo. Um dos seus méritos foi retratar muito bem o ar cinzento e silencioso dos luso-colarinhos-brancos e exigir a quebra do secretismo das mais-valias chorudas que auferem enquanto administradores dos bancos: 9 milhões de euros por ano no BPI (6 ou 9 administradores, salvo erro) e 25 milhões de euros por ano no BCP (16 administradores, salvo erro). Se todos sabemos quanto ganham os trabalhadores, por que razão não podemos saber quanto ganham os administradores, não no conjunto, mas individualmente. Berardo afirmou, já no final, que quer saber, mesmo que para isso recorra aos tribunais ou outros meios legais. O professor lembrou que actualmente as grandes empresas não são governadas pelos accionistas (os proprietários), mas pelos administradores que, ao abrigo do sigilo e de truques legais e estatutários, usam e abusam do capital que não lhes pertence, podendo conduzir um grande banco a uma situação difícil, como sucede neste momento com o BCP, devido ao facto do seu fundador «ter-se passado», como diz Berardo. Este aspecto é importante, porque, ao contrário do que se pensa, os maiores corruptos e trapaceiros não são os empresários, mas os seus empregados de colarinho-branco. Uma prova disso é que Berardo foi transparente no que disse, embora não domine o português, e os restantes foram vagos e confusos e usaram linguagem pouco transparente.
A fusão dos dois bancos pode ser boa, se levarmos em conta a sua dimensão internacional e facilitadora da expansão das empresas portuguesas pelo mundo (Angola, Polónia, etc.), mas a proposta do BPI é inaceitável do ponto de vista dos accionistas do BCP: com 70 contra 30, o novo banco seria dominado pelo BPI. Berardo não aceita tal proposta e Fátima Campos parece saber que hoje (30 de Outubro de 2007) ela será rejeitada pelo BCP.
A conclusão mais válida deste debate é que o sector financeiro é pouco transparente e, por isso, constitui provavelmente um oásis para os luso-corruptos que querem enriquecer num ano e garantir reformas milionárias. Os colarinhos-brancos da economia, do direito e da engenharia constituem actualmente uma casta dominante e, portanto, o rosto do novo inimigo da democracia. No final, Berardo juntou-se aos trabalhadores na plateia e os colarinhos-brancos aglomeraram-se no palco, longe da ralé.
J Francisco Saraiva de Sousa

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